sexta-feira, 23 de julho de 2010

Melhores amigos


- Eu não teria coragem de te beijar. - mentiu. Uma dessas mentiras que me pede para provar o contrário. Seus olhos sorriam para meus lábios, que os encaravam. - Você teria?
- Sim - foi o máximo que minha voz baixa e aguda conseguiu dizer. Como não teria com aquelas mãos em minha cintura, aquele sorriso em mim.
O que aconteceu depois nem eu consigo descrever. Uma onda de calor acabou com o frio em minha pele, uma estranha felicidade acabou com o nó em minha garganta. Mas ainda assim algo não parecia certo.
- Precisamos ir, estamos atrasados. - disse, ou pelo menos tentei dizer.
- O tempo parou - você sussurrou baixinho.
Dizem que beijar amigos é o pior crime que alguém pode cometer. Mas e beijar melhores amigos? Eu esperava por isso há meses e agora parecia tão errado, tão ilegal. Como eu reagiria pela manhã? Como eu sorriria do mesmo jeito? Como eu esperaria pelas suas ligações? Era tão platônico para mim e o seu pior erro foi ter tornado real.
- Você tem que ir para a faculdade... - tentei dizer, mas você nem ligou - Eu tenho que ir pra casa... - sua boca continuava na minha, suas mãos ainda me apertavam e seu coração, colado no meu, estava acelerado.
Mas que é que eu estou fazendo aqui? Como posso ficar aqui parada enquanto destruímos nossa amizade? Eu não queria daquele jeito, eu queria mais, queria para sempre. Mas eu sempre soube que com você era só uma noite.
- Eu não imaginava que chegaríamos a isso - você falou baixinho em meu ouvido e um choque de eletricidade rondou meu corpo.
Por que diabos nos atraíamos tanto? Por que sempre íamos parar no mesmo lugar? Sempre tão perto, sempre tão apaixonados. E nem estávamos apaixonados. Bem, não ele.
- Vamos sair daqui - repeti, outra vez em vão.
Olhei em volta, a sala já não parecia tão grande, as cores já não eram mais tão opacas. Tudo tinha um brilho diferente, tudo sorria. Não sei ao certo quanto tempo demorei para conseguir me soltar daquele abraço tão apertado, tão desejado.
- Você tem mesmo que ir? Você quer ir? - ele quase implorava.
- Eu não tenho, eu não quero. Mas algo diz pra eu ir embora e eu não quero me decepcionar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário